Enquanto eu estava preenchendo o formulário de apoio financeiro da PyCon, me deparei com a seguinte pergunta: Your Involvement (‘Seu Envolvimentor’ em tradução livre). Não era bem uma pergunta. Estava mais para um enunciado seguido de uma caixa de texto em branco, e logo embaixo de caixa em cinza claro a frase: “Descreva seu envolvimento em qualquer projeto open source ou em comunidades Python, locais ou internacionais”.

E eu pensei ‘Okay, eu entendi. Posso escrever isso!’. Consequentemente, fiz uma lista de todos os tópicos que eu fazia questão que aparecessem em minha resposta. E foi aí que eu notei.

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Acredito que isso se chama bloqueio criativo. Exato, eu, supostamente, deveria falar de mim e do que eu gosto de fazer, mas eu não conseguia. Vai entender essas coisas, né? Então, eu dei respirei fundo. Andei um pouco pelo quarto. Respirei fundo mais uma vez. Ainda usei esse meio tempo para beber uma água.

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E então, como mágica, as palavras surgiram. Mal sabia eu que aquela caixa tinha apenas 1024 caracteres, e eu acabei escrevendo 2782. Oops. Depois de colocar meu coração e alma nessa resposta, antes de diminuir-la a 995 caracteres, decidi que iria postar a versão inteira aqui. Então senta que lá vem história.


Eu faço parte de do grupo de usuários Python em Ribeirão Preto (uma cidade no Estado de São Paulo), mais conhecido como grupy-rp, desde o fim de 2015 quando os meninos que faziam parte desse grupo foram dar um mini-curso na semanaa semana acadêmica do meu curso. Era uma introdução a Python e Django com deploy de webapp simples para o Heroku.

A maior parte do Grupy-RP é composta por homens e mesmo assim eu continuei indo aos encontros e me tornei parte daquilo que eu gosto de chamar de família tech. Um dos meninos do grupo me apresentou ao PyLadies, um conceito que eu não fazia ideia da existência. Foi então que eu entrei em contato com as outras ladies espalhadas pelo Brasil. E foi assim que eu conheci a segunda coisa que eu mais amo sobre Python: um grupo de mulheres que trabalham juntas com uma ferramenta que amo.

O grupy-rp também organiza um evento local chamado Caipyra, e foi nesse evento que eu conheci alguns desenvolvedores(as) maravilhosos(as). Nessa mesma época, o mesmo amigo que me apresentou as PyLadies (que iriam trabalhar comigo para criar um novo grupo local) falou que tinha uma vaga aberta na startup que ele trabalhava para um estágio de desenvolvimento web com Python, e disse “Você tem que se candidatar!”. Depois de muita conversa e fazer e refazer o Tutorial das Django Girls, e eu comecei a gostar da ideia de me tornar uma webdev. E foi assim que eu me candidatei.

Entre outros candidatos, eu fui escolhida para trabalhar lá. Naquela época, eu já me sentia em casa. Já estava acostumada a ir a eventos menores, conversava sobre Python com as pessoas que eu conhecia e eu caí de cabeça em um estágio com o cara que eu considero um dos meus mentores. Foram sete meses intensos. Muitas dúvidas em relação a mim mesma e síndrome do impostor para lidar. Porém, hoje sei que todos os dias eu posso me tornar uma desenvolvedora melhor.

E ser uma desenvolvedora melhor também inclui ir a eventos e ensinar o que você sabe para outros então, quando surgiu a oportunidade de me tornar uma tutora no Django Girls, eu não pude deixar deixar escapar. Me inscrevi como instrutora do Django Girls que rolou durante a Python Brasil de 2016 e recebi uma resposta positiva alguns meses depois de fecharem as inscrições. Eu não podia me sentir mais amada.

Claro que para tudo isso acontecer eu precisei, e tive, incentivo dos meus amigos e mentores da comunidade Python. Essa comunidade linda que me aceitou de braços abertos e, quando a hora chegou, fez de tudo em seu poder para que eu não me sentisse excluída.

O modo que eu achei para retribuir todo esse amor que me foi dado é ajudar outros, sempre que possível eu sempre acho um tempo para contribuir com projetos open source como o site das PyLadies Brasil, ou como o projeto Serenata de Amor, o qual o grupy-rp organizou um fim de semana para contribuir, também postando o que eu aprendi num blog. E as vezes até incentivando os outros do mesmo jeito que eu fui incentivada.


Para Pam que leu isto enquanto estava sendo escrito pela primeira vez e me incentivou a publicá-lo; Para Pedro que sempre manda mensagens amigáveis para lembrar de terminar os textos como solicitado; Para Leticia que me encorajou a preencher o pedido de auxílio financeiro da PyCon; Para Marco meu amigo e mentor; E para Mari que é sempre muito paciente ao me dar feedback sobre minha escrita.

Edit: Agora eu oficialmente desenvolvedora e analista de dados full-time no Projeto Serenata de Amor e também me formei \o/